06 outubro, 2010

Candy

Realização: Neil Armfield
Interpretação: Abbie Cornish, Heath Ledger, Geoffrey Rush
Ano: 2006
----------------------------------------------------------------------- 
            Candy é um filme sobre um triângulo amoroso entre Candy (Abbie Cornish), uma estudante de artes plásticas, Dan (Heath Ledger), um aspirante a poeta, e a heroína. Inspirado no livro homónimo de Luke Davis, o filme conta a história de um casal imaturo e ingénuo mas com um elo de ligação entre os dois fortíssimo. Usam as drogas como uma parte das suas vidas até que o seu consumo se descontrola, e começam a viver centrados na heroína, fazendo de tudo para a obter. O casal entra assim numa espiral de auto-destruição e desespero enquanto ao mesmo tempo lutam para salvar o sentimento entre eles. Essa espiral é dividida na narrativa através de três capitulos: "Heaven", "Earth" e "Hell", onde o próprio nome de cada um espelha a queda do casal.
       É um filme que envolve drogas, mas estas são uma parte do romance em si e nunca um ponto onde a obra se foque. É diferente de filmes como Requiem for a Dream ou Trainspotting pois o ponto central do filme nunca deixa de ser o romance. Não existem cenas de tráfico ou planos focados na injecção da heroína em si. A própria decadência dos amantes é mais psicológica do que visual. Mostra mais aquilo que as drogas nos podem tirar de bom do que as consequências negras das mesmas.
       O filme é capaz de prender o espectador facilmente desde os primeiros momentos, sendo fácil simpatizar com a inocência de Dan e com o mau feitio de Candy. Consegue ser uma obra realista mas ao mesmo tempo esse realismo é transmitido ao espectador de uma forma poética. Consegue ter cenas de um dramatismo elevado sem sequer necessitar de qualquer fala por partes dos actores - de destacar o momento em que Dan chega a casa com um ramo de flores e encontra as paredes cheias de frases que Candy escreveu com vernizes e batons. Uma cena que só por si representa bem a loucura e degradação poética que o filme transmite.
       As interpretações estão bem conseguidas, de destacar a carga emocional que tanto Heath Ledger como Abbie Cornish conseguem transmitir, principalmente nas cenas mais dramáticas. E são principalmente essas cenas que fazem de Candy uma obra com impacto no espectador, onde este dificilmente ficará indiferente.
       A narrativa é bastante simples, e o que poderia ser um ponto fraco noutros filmes aqui é um ponto forte. Tudo no filme é simples e natural, desde a banda sonora até à personalidade das personagens. Mas essa descomplexidade é um dos pontos que faz de Candy um filme único. É como se a um conto de fadas infantil, simples e inocente, tivéssemos acrescentado o elemento das drogas e todas as consequências que elas acarretam. 
       Candy é um filme tão belo quanto perturbante, juntando um romance ardente com a ruína das drogas num equilíbrio poético raramente visto no cinema. 
.João Miranda
[8/10]