18 agosto, 2010

American History X

Realização: Tony Kaye
Interpretação: Edward Norton, Edward Furlong, Avery Brooks
Ano: 1998
----------------------------------------------------------------------------       American History X é um filme violento, talvez até demasiado, abordando o racismo desde a sua origem até às suas consequências. Violento não só a nível visual porque embora tenha a sua violência gráfica, não é esta que se destaca quando comparada com a agressividade psicológica que a obra transmite.
       Sendo narrada por Danny Vinyard (Edward Furlong), a história começa com um flashback onde este repara num grupo de indivíduos de raça negra que se preparam para roubar o carro do seu irmão, Derek Vinyard (Edward Norton), alertando o mesmo. Edward Norton mostra logo nas primeiras cenas o seu potencial, conseguindo transmitir só pelo seu olhar um misto de ódio e ansiedade ao espectador. Decide confrontar os assaltantes e acaba assassinando dois deles a tiro. A policia aparece, e Derek é preso com um sorriso orgulhoso no rosto, tornando-se num ídolo para o seu seu irmão mais novo que assiste a tudo.


       Derek Vinyard é uma personagem fascinante. É o líder de uma comunidade skinheads local, e enquanto todos os outros neo-nazis presentes no filme mostram, de uma forma ou de outra, um intelecto reduzido, Derek consegue ser carismático e inteligente. É alguém paradoxal, capaz de defender aquilo que acredita com paixão, e ao mesmo tempo sendo brutalmente violento em certas situações, numa delas explodindo de raiva logo após ter defendido o seu ponto de vista de forma até convincente. É uma personagem em mudança, e ao longo do filme, entre os flashbacks com imagens a preto e branco e representando o presente a cores, vemos alguém com duas facetas completamente distintas. É  como se Norton estivesse a representar duas personagens.
       Edward Furlong interpreta o irmão mais novo do líder skinhead. Danny é um jovem perdido e revoltado, vendo o seu irmão como um exemplo a seguir é facilmente influenciado por este, acompanhando portanto a mudança do mesmo. É um dos pontos fortes do filme pois é a personagem que possui mais carga dramática. Todo o filme é no fundo a visualização de um texto seu sobre o irmão.
       Tudo isto são pontos suficientes para tornar este filme algo excepcional, mas o ponto mais forte do filme está na imparcialidade com que este é narrado. Tal imparcialidade permite ao espectador optar por que lado quer estar durante o filme, e até no seu final podemos tirar a conclusão que acharmos melhor. Prova disso é este ser um filme ser um símbolo tanto por movimentos anti-racistas como por comunidades skinheads actuais.
       A produção do filme foi repleta de conflitos entre o realizador e outros membros da equipa, nomeadamente Edward Norton, tendo Tony Kaye considerado a hipótese de abandonar o seu trabalho a meio. Mas a verdade é que é difícil imaginar como poderia esta obra ser melhor.
       Um filme que recorre a um tema bastante usado para fazer algo completamente diferente. É audaz e cruel, e não está com meias medidas para representar uma verdade social ainda presente nos nossos dias.
.João Miranda
[8/10]

16 agosto, 2010

Green Zone

Realização: Paul Greengrass
Interpretação: Matt Damon, Jason Isaacs, Greg Kinnear
Ano: 2010      
                                                                             
       Em 2003, os Estados Unidos da América invadiram o Iraque com o fim de localizar as supostas armas de destruição massiva que se encontravam no país. A guerra eventualmente chegaria ao fim com os EUA a proclamarem-se vencedores, mas a verdade é que tais armas nunca foram encontradas. 
       Green Zone tem como base esse facto. Embora parta de uma premissa verídica, muito pouco da história teve como base pessoas ou contextos reais, devendo assim o espectador ver o filme como uma obra de ficção e não como uma espécie de documentário. Mesmo assim, a obra não deixa de expor uma verdade inconveniente para os EUA – algo que pode explicar o pouco sucesso que este filme teve no seu pais de origem. 
       Com leves inspirações no livro Imperial “Life in the Emerald City” de Rajiv Chandrasekaran, o argumento foca-se em Roy Miller, a personagem interpretada por Matt Damon, um sargento destacado para localizar as armas nucleares no Iraque que ao chegar aos supostos locais onde o armamento se encontraria nada encontra para além da dúvida se o objectivo da sua missão não foi simplesmente um pretexto para uma invasão com outros fins. 


 


       O espectador acompanha ao longo do filme o sargento enquanto este desvenda a cortina de mentiras à volta do verdadeiro motivo que o levou a participar numa guerra, travando a partir deste momento um conflito entre Miller que pretende divulgar a inexistência de armas de destruição massiva, e os serviços militares americanos que vêm este “abrir de olhos” do sargento algo muito inoportuno.
       Sendo a única personagem principal de todo o filme, a história é toda ela descrita sob o seu ponto de vista.
       A narrativa é frenética. Em nenhum ponto é aborrecida nem deixa de prender o espectador, num autêntico crescendo até ao final. É clara e objectiva o suficiente para agradar aos espectadores que procuram apenas um entretenimento, e consegue ao mesmo tempo ser rica e complexa para aqueles que procuram algo mais num filme. É um thriller com um equilibro perfeito entre o suspense e a critica política. 
       As personagens podiam ter sido mais trabalhadas. A única figura que acompanha o filme com relevância é o sargento Miller, mas nem este é aprofundado em nenhum ponto do filme, não permitindo a Matt Damon usar o seu potencial, nem permitindo ao espectador criar uma empatia com o herói. Mesmo assim, tanto a actuação de Matt Damon como de todas as personagens secundárias estão bem conseguidas, e embora não existam neste filme personagens memoráveis, todas elas possuem bastante credibilidade - algo que se alastra até aos figurantes, tendo o realizador Paul Greengrass escolhido militares para participarem no elenco.
       Qualquer pessoa informada já se deve ter questionado sobre os temas que o filme aborda, por isso Green Zone não é um filme que revele nada de novo. É, no entanto, bastante agradável ver a audácia com que o filme acusa os EUA de falsificação de provas que levaram a uma guerra seguida em directo por todo o mundo.
       Sete anos depois da invasão, já com Saddam Hussein capturado e executado, este épico bélico relembra-nos as condições dúbias em que os EUA declararam guerra, e nunca é tarde de mais para reflectir um pouco sobre as intenções que levaram à invasão do Iraque.

.João Miranda
[7/10]


The Dark Knight


Realização: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart,
Michael Caine
Ano: 2008

     Na última década o cinema tem sido bombardeado com dezenas de filmes de super-heróis, a maioria baseada em clássicos de banda desenhada, que pouco mais são do que blockbusters. Têm resultado enquanto filmes de entretenimento, são divertidos, agradam às massas, mas raramente possuem algo que realmente os destaque dos restantes. The Dark Knight é um filme de super-heróis, baseado também num clássico de BD, mas completamente diferente de qualquer filme do género alguma vez feito.
       Consegue superar em todos os níveis o anterior, e é capaz de se destacar em praticamente todos os aspectos: narrativa, realização, guarda-roupa, caracterização, e principalmente personagens e interpretações.
       O filme começa onde o anterior terminou, e arrasta consigo as mesmas dúvidas morais do anterior. Mas neste, de uma forma muito mais carregada. Batman (Christian Bale) é um símbolo de esperança e um ídolo para a população de Gotham City. Aqui encontra-se aliado a Harvey Dent (Aaron Eckhart), o Procurador-geral empenhado em acabar com o crime organizado na cidade, e Jim Gordon (Gary Oldman), um dos pouco polícias incorruptos restantes. No entanto, surge o lunático Joker, que através de uma chantagem psicológica direccionada para Batman consegue desunir a população de Gotham.



       Batman ainda é a personagem principal deste filme, mas a verdade é que Joker e a interpretação de Heath Ledger cativa mais do que qualquer outro aspecto na obra. O filme começa com um assalto a um banco onde Joker afirma olhando em direcção à câmara, em direcção ao espectador: “Aquilo que não te mata deixa-te estranho”. E no fundo é essa a premissa do filme. Seja através dos monólogos ou das suas atitudes, esta personagem luta para provar que qualquer homem se pode tornar tão insano quanto ele quando exposto a uma dose de dor suficiente, e tão vazio de valores quanto ele quando posto em cheque. A personagem de Ledger está conseguida de uma forma memorável, capaz de fazer o Joker de Jack Nicholson corar de vergonha. Inevitavelmente acaba por ser o foco principal da obra, fazendo o espectador ansiar pela próxima cena com o vilão enquanto assiste ao filme. As suas expressões faciais, a sua voz e o seu riso lunático são inesquecíveis. Ao longo de duas horas e meia é nos dada a conhecer a sua história, as suas crenças, tal como as novas personagens desta sequela, de destacar também a transformação de Harvey Dent ao longo do filme, com uma interpretação de Aaron Eckhart capaz de acompanhar bastante bem a personagem.
       A banda sonora é original e bastante completa, possuindo melodias que representam cada estado de espírito que o filme transmite. Muitas vezes ela é apenas um som de fundo, como um som ambiente, mas que faz a diferença toda em certas cenas.
       Resumindo, The Dark Knight é possivelmente o melhor filme de super-heróis alguma vez feito, conseguindo ter uma carga emocional difícil de igualar, e cenas que ficarão na memória do espectador.
       Resta esperar que o próximo filme, já em produção, consiga pelo menos acompanhar a qualidade deste.

.João Miranda
[8/10]